Quando cheguei na Irlanda, tive que cumprir a mesma saga de todo não-europeu que desembarca aqui. Me tornar uma cidadã irlandesa. Agora, desfaço esses passos, para deixar de existir como tal. Hoje, fui no banco fechar a minha conta. Também liguei para um cara que faz transfer para o aeroporto (meu voo é de madrugada. Não seria muito legal ir sozinha, na escuridão, procurar um ônibus com duas malas).Quando faltava um mês para deixar Dublin, eu anunciei minha vaga no apartamento em sites de classificados de imóveis. Sim, porque uma obrigação de quem divide casa com outras pessoas na Irlanda é achar alguém para seu lugar. Até para ter o dinheiro do depósito de volta. Quando se aluga um imóvel, deve-se deixar uma quantia como depósito (normalmente, o mesmo valor do aluguel). O proprietário devolve quando o imóvel for entregue (se estiver em boas condições). Como o pessoal sai e entra a toda hora, quem está indo embora deve achar alguém para ficar em seu lugar e cobrar dessa pessoa o depósito para não ficar no prejuízo. Eu tive sorte. A primeira pessoa que me escreveu um email, respondendo ao anúncio, ficou com o apartamento. E eu não vou conhecê-la pessoalmente. Acredite. Facilidades da internet. É uma alemã, que me pareceu muito gente boa. A gente combinou tudo por email ou pelo Facebook. A princípio, ela chegaria um dia antes de eu partir. Mas, teve que adiar a viagem por uns dias, o que fará que não nos encontremos. A alemã me mandou o dinheiro do depósito e do aluguel (que eu já tinha pago adiantado) por transferência bancária e já acertamos para uma das minhas colegas de apartamento entregar as chaves para ela.
Assim, minha vida aqui começa a ser apagada. Sei que não estou indo para forca. Só vou voltar para o Brasil. Para minha casa de antes, para meu emprego de antes. Territórios conhecidos. Mas, não sei explicar por que, a agonia que sinto agora é muito maior do que o nervoso que senti antes de embarcar no Brasil para vir para a Irlanda, terra inexplorada para mim até então. Alguns amigos que já passaram por experiência semelhante me disseram: "o pior é sempre a volta". É louco, mas é verdade. Reacostumar-se com sua vida pode ser mais difícil do que se acostumar com uma nova.
Acho que é sempre inevitável a pergunta, quando chega essa hora: devo renovar meu visto? Segue-se a isso uma balança com sua vida no Brasil e o que foi construído na terra estrangeira nos últimos meses. Difícil.
Andando pela rua em Dublin nos últimos dias, às vezes, me dá uma vontade de chorar. Não é força de expressão. Digo isso no sentido literal. A garganta embarga ao olhar o rio Liffey e pensar que não estarei andando ao longo dele ao entardecer da próxima segunda-feira. Vou estar a 10 mil quilômetros de distância.
Como um rito de passagem, vou desfazendo os meus passos por aqui. Deixando de existir como uma cidadã irlandesa. Não é a forca, mas não deixa de ser uma espécie de morte. Como toda partida, triste. Como toda partida, uma lição. De vida.
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