Hoje é meu último dia de Irlanda. Embora estivesse melancólica nos últimos dias, hoje, acordei muito feliz, cheia de pensamentos positivos, na expectativa de rever as pessoas queridas no Brasil. Deixei para arrumar minhas malas nesta manhã e foi tudo muito simples. Terminei em duas horas.
Nesses momentos, fazer um balanço da experiência é inevitável. Essa também é a pergunta mais recorrente de amigos nos últimos dias: valeu a pena? Claro que valeu. Conheci sete países, fiz muitos amigos, vi muita coisa. Mas, não acredito naquele discurso chavão de “isso mudou minha vida”. Sou a mesma Kelly. Óbvio que aprendi muitas coisas (esse é o princípio da vida. Temos que aprender com tudo, todos os dias. Porém, não acho que viver no Exterior te transforma em outra pessoa. Talvez, se você for muito imaturo).
Provavelmente, sou um pouco mais corajosa agora. Eu viajei sozinha quase sempre (só fui com amigos para um dos países) e, para mim, ir para o estrangeiro se tornou algo como pegar um ônibus para ir de Bento a Caxias rever minha mãe, e não algo assustador. Me deem um mapa e consigo me achar facilmente em Londres, Roma, Madrid ou Paris. As cidades grandes não são mais desafios.
Como eu fui feliz na Espanha e na Itália (latinos, tão parecidos com Brasil)! Como Edimburgo é surpreendentemente linda! Como os franceses são bem mais prestativos do que as pessoas dizem (mesmo que não falem inglês)! Como a Irlanda do Norte ainda sente a ferida aberta dos conflitos entre católicos e protestantes! Como tanta gente ainda é fascinada pela monarquia na Inglaterra e outros não tão nem aí (eu tava lá no casamento real)! Como os coreanos são pessoas tão gentis (isso eu aprendi em Dublin mesmo)!
Tenho o sol da Itália na minha pele, milhares de fotos e poucos souvenirs. Não acredito que comprar bugigangas por aí seja algo útil (Ok. Confesso, eu coleciono imãs de geladeira dos lugares por onde passo. Mas só pq são baratinhos e fáceis de carregar). Fora isso, coleciono detalhes e memórias. Os italianos atendem ao telefone exatamente igual ao meu tio: “pronto!” e franzem a testa como meu pai quando estão surpresos (se eu tinha alguma dúvida de onde vieram meus ancestrais, não tenho mais). Quem nasce em Barcelona diz ser catalão e não espanhol. O símbolo de lealdade da Escócia é um cão chamado Bobby que dormiu por 14 anos no túmulo do seu dono, morto no século 19.
Meu inglês melhorou, acabei meu curso no nível avançado, mas não posso dizer que sou verdadeiramente fluente. Seis meses é pouco para entender absolutamente todas as palavras (ok. Isso é impossível, na verdade). Mas, óbvio que posso me comunicar sem problemas.
Listo abaixo as coisas que vou sentir falta em Dublin e aquelas que, definitivamente, não terei saudade. A lista negativa é maior (você não esperava que a viver na Europa era o paraíso, não?). Mas, mesmo assim, agora, na partida, o que fica são as lembranças positivas. Afinal, eu não coleciono souvenirs. Eu coleciono memórias.
Lista do que vou sentir falta
- Caminhar na beira do Liffey no final do dia quando tem sol;
- Fazer fotos na Ponte Samuel Beckett e ver o sol atrás da Customs House;
- Lagartear num dos parques;
- Pegar um avião para ir para outro país como se fosse pegar um ônibus para ir de Caxias a Bento;
- Conviver com japoneses, coreanos, italianos, espanhóis, etc, enfim, com uma pequena amostra das raças do mundo;
- Das pessoas dizendo sorry na rua por qualquer pequeno motivo (educação é tudo!);
- Da segurança de sair à rua, mesmo à noite, sem se preocupar se será assaltado;
- Fazer ligação internacional com Vodafone pré-pago por 9 centavos de euro ao minuto. Ou ligar ou mandar mensagem de graça para outros Vodafone (a concorrência na telefonia é algo fantástico na Europa).
Do que não vou sentir falta:
- Da comida daqui (horrível, ou sem gosto ou pura pimenta);
- Dos knackers (ganguezinhas de arruaceiros que batem em estrangeiros ou ficam criando confusão nas ruas);
- Das pessoas feias (sério. Eles foram mto judiados pela vida. Mtos irlandeses não têm dentes na boca, mas tem Iphone e são felizes. Dentista é algo carrísimo aqui);
- Da saúde pública pior do que a SUS no Brasil. Atendimento péssimo, especialmente se você for estrangeiro, com espera de seis horas por consulta na emergência;
- Do custo de vida (transporte, alimentação, moradia são caríssimos, não só comparando com Brasil, mas com outros países da Europa);
- De ter que esperar duas horas para o boiler rodar e poder tomar banho (se vc chegar em casa tarde, louco para tomar banho, mas já tiver outras pessoas na fila do boiler, isso quer dizer que só vai conseguir ir para o chuveiro lá pelas 1h, 2h da manhã. Bem legal... E quase todas as casas e aptos tem boiler);
- Não ter espaço para guardar suas coisas em armários e geladeiras. Isso pq todas as casas e aptos são minúsculos e divididos por cinco, seis ou mais pessoas. Então, você tem que ir ao mercado três vezes por semana, no mínimo;
- Não ter espaço – pelo mesmo motivo - no guarda-roupas para todas as suas coisas. Eu tinha sapatos dentro da mala, e calcinhas, cachecóis e meias dentro de sacolas de papelão (daquelas de lojas). E assim é com todos os estrangeiros. Aliás minha casa é “super espaçosa” perto de outras que vi por aí;
- Chegar em casa às 14h,vinda da escola, faminta, mas ter que esperar pq outros estão usando a cozinha.
Mas, enfim, vou voar para Amsterdam, na Holanda, às 6h deste domingo (hora da Irlanda. 2h da manhã no Brasil). Depois pego uma conexão para Guarulhos, em SP (11 a 12 horas de voo). Cinco horas de espera no aeroporto, mais um voo para Porto Alegre. Meia-noite (horário do Brasil), estarei aterrissando em solo gaúcho. E ainda terá a viagem para Bento Gonçalves. Depois de mais de 26 horas, terei chegado na casa dos meus pais. Vejo vocês no Brasil!
P.S. O vídeo aí de cima é só para ser trilha sonora enquanto vc lê.
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