segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Croke Park, jogos gaélicos e a partida histórica de 2007

Eu fiquei impressionada com o número de torcedores pelas ruas e pubs neste domingo. Era a semi-final de futebol gaélico da GAA (Associação Atlética Gaélica). Mayo versus Kerry (se interessar, o Kerry está na final). Segundo o site da GAA, mais de 50,6 mil pessoas assistiram à partida no Croke Park. Passei na frente do estádio no final do jogo. Era aquele mesmo clima de saída de estádio no Brasil (mais amistoso, diria), crianças, pais, mulheres, churrasquinho (hamburger na grelha, o churrasco para os irlandeses).
O futebol (o que você conhece no Brasil por futebol) não é tão popular assim por aqui. Mas o gaelic football é. O jogo é algo entre o futebol e o rugby, dá para usar os pés e as mãos.
O Croke Park é a casa dos jogos gaélicos. Mas isso tem uma explicação histórica. Ah, primeiro vamos saber o que são jogos gaélicos: além do futebol gaélico, tem o hurling (que se joga num gramado mas com bastões), o handebol, camogie (também com bastões) e rounders (tem bola e bastões. Só não me peça para explicar a diferença de um de outro. Ahah).
Bom, voltando à história do Croke Park ser a casa dos jogos gaélicos. O estádio foi o palco do massacre conhecido como Bloody Sunday, em 1920. (Só para explicar: a música do U2 se refere a outro episódio, que também entrou para história como Bloody Sunday, mas esse foi em 1972, na Irlanda do Norte.) O primeiro ocorreu durante a guerra pela independência da Irlanda. No dia 20 de novembro de 1920, o Exército Republicano Irlandês (IRA) matou 14 britânicos, integrantes da força de inteligência que viviam em Dublin para passar informações sobre a rebelião para o Reino Unido. Em represália, tropas britânicas foram até o Croke Park no dia seguinte, 21 de novembro, um domingo, e abriram fogo contra a multidão que assistia a um jogo de futebol gaélico, matando 14 civis, incluindo dois jogadores e duas crianças, uma de 10 e outra de 11 anos. Esse é um dos episódios mais traumáticos da história irlandesa.
A independência do país veio em 1922. Porém, depois do Bloody Sunday, ficou definido que nenhum jogo originário da Inglaterra seria disputado no Croke Park, incluindo aí futebol e rugby. Esses jogos teriam como casa apenas o Landsdowne Road Stadium. Mas, em 2007, esse estádio foi demolido para que, em seu lugar, fosse construído um novo, com capacidade para mais espectadores e que atendesse a padrões internacionais. Mas aí, veio o grande problema: até que ficasse pronto, onde seriam disputadas as partidas de futebol ou rugby? Um grande debate surgiu na Irlanda em 2005 (dois anos antes da demolição, mas quando já havia o projeto de fazer isso). Muitos defendiam que não havia problema em disputá-las no Croke Park, outros viam isso como um ultraje. Ao final, foi definido que os jogos teriam, sim, como palco o Croke Park durante a reforma do outro estádio. Mas, por um acaso do destino, o primeiro jogo seria uma partida de rubgy justamente entre Inglaterra e Irlanda, marcada para o dia 24 de fevereiro de 2007. Criou-se um clima de apreensão. Muitos esperavam que jogadores ingleses seriam hostilizados ou que haveriam brigas na torcida. Mas, ao contrário, o dia foi de paz. Na hora do hino da Inglaterra, total respeito da torcida. No hino irlandês, muitos jogadores e torcedores choraram. O time inglês era muito superior ao irlandês, mas a Irlanda, surpreendentemente, venceu aquela partida. Para muitos jogadores da Irlanda, foi uma espécie de jogo da vida, ainda que não valesse o campeonato (era uma das partidas do torneio Six Nations). Aí no vídeo acima, confira o momento dos hinos.
Últimas curiosidades: com a inauguração em 2010, o Landsdowne passou a se chamar Aviva Stadium.
O Croke Park, com capacidade para 82,3 mil expectadores, é o terceiro maior da Europa (perde só para o Nou Camp, em Barcelona, e, Wembley, em Londres).

Esse é um vídeo feito pela GAA (associação de jogos gaélicos) para sentir o clima do Croke Park: http://www.youtube.com/watch?v=bCYSflQwc7o

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