Esse é meu último post neste blog. Estou de volta ao Brasil. Cheguei na casa dos meus pais às 2h15min da manhã de segunda-feira, 27 horas depois de ter saído do meu apartamento na Irlanda para ir ao aeroporto. Tudo correu bem na viagem. Apesar de um pequeno imprevisto logo no começo. Eu tinha três conexões até chegar a Porto Alegre, no RS. O primeiro voo saía de Dublin para Amsterdam, na Holanda, às 6h (horário da Irlanda). O segundo voo, de Amsterdam para Guarulhos (SP), partiria apenas uma hora e meia depois de eu aterrissar na Holanda. Isso era o programado, ao menos. Ao entrar no avião em Dublin, o anúncio do piloto: "o voo está atrasado por causa da neblina. Previsão de atraso: uma hora". Pensei: pronto, perdi meu voo para o Brasil! Cheguei a Schiphol, o aeroporto de Amsterdam, quando faltavam 25 minutos para o próximo avião decolar. Corri como uma louca e cheguei exatamente a tempo.
Não consegui dormir no voo de 11 horas e 30 minutos até Guarulhos. Assisti quatros filmes e meio (o último não consegui ver todo pq o avião já estava entrando em procedimento de pouso) e dois episódios de séries. Em Guarulhos, a conexão para Poa saía só cinco horas depois da minha descida no Brasil.
Ao colocar o pé no aeroporto brasileiro, senti uma sensação estranha, uma mistura de felicidade com incredulidade. Não parecia que estava de volta ao meu país. Eu ouvia português nas conversas ao meu lado e não entendia. Parecia tão estranho as pessoas não estarem falando inglês a minha volta. Muitas vezes, minha primeira percepção era que os adolescentes ao lado estavam falando uma língua talvez do leste europeu, algo incompreensível. Mas não, era português. E no balcão da companhia aérea, para o check-in, o meu primeiro impulso foi abrir a boca para falar "Good evening", mas me segurei a tempo. Ao comprar um sanduíche e um suco no aeroporto, a atendente perguntou se uma água mineral em cima do balcão também era minha. Não respondi. Aquelas palavras não faziam sentido para mim. Ela repetiu. Eu continuei sem falar. A outra atendente socorreu: "não, é de uma outra moça". Então, alguns segundos depois, a pergunta fez sentido no meu cérebro. Mas, acho que foi mais o cansaço da viagem do que o costume de falar inglês. Porque, óbvio, eu falava muito português na Irlanda.
No voo de Guarulhos para Poa, eu capotei. Era tarde demais para mim (eu estaria dormindo há horas na Irlanda). No caminho de carro entre Porto Alegre e Bento Gonçalves, me bateu uma tristeza, ao perceber que tudo estava exatamente no mesmo lugar. Até as placas de publicidade, eu tinha impressão que eram exatamente os mesmos anúncios do dia em que fiz o caminho inverso, indo para o aeroporto.
Agora, já começo a me reacostumar com minha vida. Mas ainda não me acertei exatamente com o horário. Tenho um sono tremendo às 21h (o que já seria uma hora da manhã na Irlanda) e acordo lá pelas 6h (10h na Irlanda). Mas, estou em férias do trabalho por enquanto, então, tenho tempo para me readaptar.
Estou aproveitando a semana para fazer o que não fiz nos últimos seis meses. Fui ao cabeleireiro e ao dentista. Amanhã, tenho oftalmologista e, na sexta, massagista.
Tenho que resolver um problema com o banco. Voltei só com alguns trocados de Real. Esqueci minha senha da conta no banco brasileiro e não consegui fazer uma nova pq os bancos estão em greve. Minha mãe teve que me emprestar dinheiro.
Ainda preciso organizar meu apto em Caxias. Arrumar gavetas, comprar desde comida até creme dental e shampoo.
Bom, mas a vida, aos poucos, volta ao normal, depois de seis meses que passaram rápido demais.
Como eu disse, esse é o último post do blog. Não teria sentido atualizá-lo, já que não estou mais na Irlanda. Mas, não vou tirá-lo do ar. A página continuará por aqui com o intuito de dar dicas para quem pretende se aventurar pela Irlanda ou Europa. Espero que seja útil.
A vocês, queridos leitores e amigos, obrigada por terem acompanhado um verão a mais na minha vida.
Jornalista brasileira indo para Irlanda descobrir o que há por lá, além dos leprechauns, do U2 e da Guinness... Acompanhe comigo um verão europeu.
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
sábado, 1 de outubro de 2011
Listas e memórias
Hoje é meu último dia de Irlanda. Embora estivesse melancólica nos últimos dias, hoje, acordei muito feliz, cheia de pensamentos positivos, na expectativa de rever as pessoas queridas no Brasil. Deixei para arrumar minhas malas nesta manhã e foi tudo muito simples. Terminei em duas horas.
Nesses momentos, fazer um balanço da experiência é inevitável. Essa também é a pergunta mais recorrente de amigos nos últimos dias: valeu a pena? Claro que valeu. Conheci sete países, fiz muitos amigos, vi muita coisa. Mas, não acredito naquele discurso chavão de “isso mudou minha vida”. Sou a mesma Kelly. Óbvio que aprendi muitas coisas (esse é o princípio da vida. Temos que aprender com tudo, todos os dias. Porém, não acho que viver no Exterior te transforma em outra pessoa. Talvez, se você for muito imaturo).
Provavelmente, sou um pouco mais corajosa agora. Eu viajei sozinha quase sempre (só fui com amigos para um dos países) e, para mim, ir para o estrangeiro se tornou algo como pegar um ônibus para ir de Bento a Caxias rever minha mãe, e não algo assustador. Me deem um mapa e consigo me achar facilmente em Londres, Roma, Madrid ou Paris. As cidades grandes não são mais desafios.
Como eu fui feliz na Espanha e na Itália (latinos, tão parecidos com Brasil)! Como Edimburgo é surpreendentemente linda! Como os franceses são bem mais prestativos do que as pessoas dizem (mesmo que não falem inglês)! Como a Irlanda do Norte ainda sente a ferida aberta dos conflitos entre católicos e protestantes! Como tanta gente ainda é fascinada pela monarquia na Inglaterra e outros não tão nem aí (eu tava lá no casamento real)! Como os coreanos são pessoas tão gentis (isso eu aprendi em Dublin mesmo)!
Tenho o sol da Itália na minha pele, milhares de fotos e poucos souvenirs. Não acredito que comprar bugigangas por aí seja algo útil (Ok. Confesso, eu coleciono imãs de geladeira dos lugares por onde passo. Mas só pq são baratinhos e fáceis de carregar). Fora isso, coleciono detalhes e memórias. Os italianos atendem ao telefone exatamente igual ao meu tio: “pronto!” e franzem a testa como meu pai quando estão surpresos (se eu tinha alguma dúvida de onde vieram meus ancestrais, não tenho mais). Quem nasce em Barcelona diz ser catalão e não espanhol. O símbolo de lealdade da Escócia é um cão chamado Bobby que dormiu por 14 anos no túmulo do seu dono, morto no século 19.
Meu inglês melhorou, acabei meu curso no nível avançado, mas não posso dizer que sou verdadeiramente fluente. Seis meses é pouco para entender absolutamente todas as palavras (ok. Isso é impossível, na verdade). Mas, óbvio que posso me comunicar sem problemas.
Listo abaixo as coisas que vou sentir falta em Dublin e aquelas que, definitivamente, não terei saudade. A lista negativa é maior (você não esperava que a viver na Europa era o paraíso, não?). Mas, mesmo assim, agora, na partida, o que fica são as lembranças positivas. Afinal, eu não coleciono souvenirs. Eu coleciono memórias.
Lista do que vou sentir falta
- Caminhar na beira do Liffey no final do dia quando tem sol;
- Fazer fotos na Ponte Samuel Beckett e ver o sol atrás da Customs House;
- Lagartear num dos parques;
- Pegar um avião para ir para outro país como se fosse pegar um ônibus para ir de Caxias a Bento;
- Conviver com japoneses, coreanos, italianos, espanhóis, etc, enfim, com uma pequena amostra das raças do mundo;
- Das pessoas dizendo sorry na rua por qualquer pequeno motivo (educação é tudo!);
- Da segurança de sair à rua, mesmo à noite, sem se preocupar se será assaltado;
- Fazer ligação internacional com Vodafone pré-pago por 9 centavos de euro ao minuto. Ou ligar ou mandar mensagem de graça para outros Vodafone (a concorrência na telefonia é algo fantástico na Europa).
Do que não vou sentir falta:
- Da comida daqui (horrível, ou sem gosto ou pura pimenta);
- Dos knackers (ganguezinhas de arruaceiros que batem em estrangeiros ou ficam criando confusão nas ruas);
- Das pessoas feias (sério. Eles foram mto judiados pela vida. Mtos irlandeses não têm dentes na boca, mas tem Iphone e são felizes. Dentista é algo carrísimo aqui);
- Da saúde pública pior do que a SUS no Brasil. Atendimento péssimo, especialmente se você for estrangeiro, com espera de seis horas por consulta na emergência;
- Do custo de vida (transporte, alimentação, moradia são caríssimos, não só comparando com Brasil, mas com outros países da Europa);
- De ter que esperar duas horas para o boiler rodar e poder tomar banho (se vc chegar em casa tarde, louco para tomar banho, mas já tiver outras pessoas na fila do boiler, isso quer dizer que só vai conseguir ir para o chuveiro lá pelas 1h, 2h da manhã. Bem legal... E quase todas as casas e aptos tem boiler);
- Não ter espaço para guardar suas coisas em armários e geladeiras. Isso pq todas as casas e aptos são minúsculos e divididos por cinco, seis ou mais pessoas. Então, você tem que ir ao mercado três vezes por semana, no mínimo;
- Não ter espaço – pelo mesmo motivo - no guarda-roupas para todas as suas coisas. Eu tinha sapatos dentro da mala, e calcinhas, cachecóis e meias dentro de sacolas de papelão (daquelas de lojas). E assim é com todos os estrangeiros. Aliás minha casa é “super espaçosa” perto de outras que vi por aí;
- Chegar em casa às 14h,vinda da escola, faminta, mas ter que esperar pq outros estão usando a cozinha.
Mas, enfim, vou voar para Amsterdam, na Holanda, às 6h deste domingo (hora da Irlanda. 2h da manhã no Brasil). Depois pego uma conexão para Guarulhos, em SP (11 a 12 horas de voo). Cinco horas de espera no aeroporto, mais um voo para Porto Alegre. Meia-noite (horário do Brasil), estarei aterrissando em solo gaúcho. E ainda terá a viagem para Bento Gonçalves. Depois de mais de 26 horas, terei chegado na casa dos meus pais. Vejo vocês no Brasil!
P.S. O vídeo aí de cima é só para ser trilha sonora enquanto vc lê.
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